uma criação.
Tudo escuro. Mas tudo mesmo, o Todo escuro. ‘faça-se’ a luz ainda não tinha sido ouvido: era o estado sem criação. Forma e vazio pensavam juntas no Nada, numa coisa descompassada e sem lógica. Soava um som surdo, sonata do vácuo.
Escutava-se, pensava-se, não se falava, não se perguntava. Havia nenhum sujeito. Um mundo indeterminado.
Tudo isso em reação gerou. A criação. Sucumbiu e veio à tona, formando, aparecendo. Nascia o tudo, que para nós parece pouco, mas parece, estava aparecendo, nascendo. Surgiu, no meio disso, o instante e passado alguns nasceu o verbo: se chamava ser, bonito nome, já predestinado a uma função.
Eis que tudo se fez.
Nascia ali também algo que chamaremos de ‘um homem’, não um qualquer, mas, neste caso, o único. Ele era. Seu primeiro pensamento, ou melhor, antes mesmo de pensar ou reconhecer, ele foi; e disse num pensamento ainda sem língua, “eu sou”. Num desenvolvimento intelectual surpreendentemente raro em casos de criação, esse um homem tentou pensar numa outra forma de dizer isso. Outro instante passava. Não conseguiu, mas valeu a tentativa. Sem mais o que poder pensar, resignado, procurou outro algo a que fazer. Piscou, viu. Conseguia enxergar até uma determinada distância, a partir da qual não se permitia a visão. Achou-se, então, inútil, criação boba, até se houvesse a palavra ‘verme’, que a nós mundanos muito é útil, ele se compararia a um desses. Na impossibilidade, achou-se limitado.
Chorou, compulsivamente; as lágrimas jorravam de seu rosto numa melancolia jamais vista ali. Era um homem que chorava, quê importa, não se institucionalizara o julgamento naquelas bandas ainda. Podia chorar, não podia não chorar. Num ato de desespero, passou a mão pela cabeça, entre os cabelos, estando de joelhos.
Sentiu: foi a sua primeira vez.
Interrompeu a choradeira. Fazia um homem a sua primeira descoberta: si-mesmo. Já teria ouvido falar disso? Não, cremos que não. Achou estranho que, mesmo não se enxergando, sabia de si, cria na sua existência, ele, teoricamente, era. Sorriu bestamente por isso. Decidido, achando-se dono, pôs-se em pé, levantou. Seu primeiro grande feito: abstraia o objeto de sentir. Sentiu poder.
Assim ele quis reparar o exterior e viu as coisas - que não sabemos quais, por essa razão as chamamos coisas – e nelas uma forma. Esticou, então, o braço, com a palma da mão para cima. Num ato possessivo, fechou a mão, como os heróis fazem, em demonstração de poder. Mostrou-se poderoso, um homem poderoso. Prepotente, tentou falar, o que, obviamente, logrou. Fechou os olhos, em repúdio àquela fraqueza.
Por fim, se constituía a última das propriedades daquele mundo, o movimento, que veio brotado de uma força estacionária. Tão forte fora sua chegada que o um homem foi impelido a andar, sem mesmo saber os conceitos físicos de ação e reação. A nós resta a dúvida se havia ali um chão: também somos limitados em nossos conhecimentos sobre esse mundo.
Desestabilizado, o um homem caiu, diferentemente. Enquanto ele era derrubado pelo movimento, aquele mundo se abalou e o instante sofreu uma instabilidade, sucumbiu , o que fez com que aquele ser ficasse caindo, caindo, caindo... Sem instante, não havia espaço e uma desarmonia intensa afligiu aquele lugar: Choveu, e isso era a primeira coisa que mostrava a independência entre ele e o território. Caindo, sem espaço, um homem sequer pode pensar. Quando, pois, o primeiro pingo de chuva tocou o seu corpo, o instante refez-se e o espaço se perdeu, comprimindo-se e aglutinando tudo. Mais um-momento-e-meio e o Tudo se desfez, perecendo também um homem, que só teve o tempo de pensar, sem ainda sequer uma língua para se expressar: “Sou?”.
Nós desconhecemos, ainda, as últimas palavras de um homem
[...]
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Tudo escuro. Mas tudo mesmo, o Todo escuro. ‘faça-se’ a luz ainda não tinha sido ouvido: era o estado sem criação. Forma e vazio pensavam juntas no Nada, numa coisa descompassada e sem lógica. Soava um som surdo, sonata do vácuo.
Escutava-se, pensava-se, não se falava, não se perguntava. Havia nenhum sujeito. Um mundo indeterminado.
Tudo isso em reação gerou. A criação. Sucumbiu e veio à tona, formando, aparecendo. Nascia o tudo, que para nós parece pouco, mas parece, estava aparecendo, nascendo. Surgiu, no meio disso, o instante e passado alguns nasceu o verbo: se chamava ser, bonito nome, já predestinado a uma função.
Eis que tudo se fez.
Nascia ali também algo que chamaremos de ‘um homem’, não um qualquer, mas, neste caso, o único. Ele era. Seu primeiro pensamento, ou melhor, antes mesmo de pensar ou reconhecer, ele foi; e disse num pensamento ainda sem língua, “eu sou”. Num desenvolvimento intelectual surpreendentemente raro em casos de criação, esse um homem tentou pensar numa outra forma de dizer isso. Outro instante passava. Não conseguiu, mas valeu a tentativa. Sem mais o que poder pensar, resignado, procurou outro algo a que fazer. Piscou, viu. Conseguia enxergar até uma determinada distância, a partir da qual não se permitia a visão. Achou-se, então, inútil, criação boba, até se houvesse a palavra ‘verme’, que a nós mundanos muito é útil, ele se compararia a um desses. Na impossibilidade, achou-se limitado.
Chorou, compulsivamente; as lágrimas jorravam de seu rosto numa melancolia jamais vista ali. Era um homem que chorava, quê importa, não se institucionalizara o julgamento naquelas bandas ainda. Podia chorar, não podia não chorar. Num ato de desespero, passou a mão pela cabeça, entre os cabelos, estando de joelhos.
Sentiu: foi a sua primeira vez.
Interrompeu a choradeira. Fazia um homem a sua primeira descoberta: si-mesmo. Já teria ouvido falar disso? Não, cremos que não. Achou estranho que, mesmo não se enxergando, sabia de si, cria na sua existência, ele, teoricamente, era. Sorriu bestamente por isso. Decidido, achando-se dono, pôs-se em pé, levantou. Seu primeiro grande feito: abstraia o objeto de sentir. Sentiu poder.
Assim ele quis reparar o exterior e viu as coisas - que não sabemos quais, por essa razão as chamamos coisas – e nelas uma forma. Esticou, então, o braço, com a palma da mão para cima. Num ato possessivo, fechou a mão, como os heróis fazem, em demonstração de poder. Mostrou-se poderoso, um homem poderoso. Prepotente, tentou falar, o que, obviamente, logrou. Fechou os olhos, em repúdio àquela fraqueza.
Por fim, se constituía a última das propriedades daquele mundo, o movimento, que veio brotado de uma força estacionária. Tão forte fora sua chegada que o um homem foi impelido a andar, sem mesmo saber os conceitos físicos de ação e reação. A nós resta a dúvida se havia ali um chão: também somos limitados em nossos conhecimentos sobre esse mundo.
Desestabilizado, o um homem caiu, diferentemente. Enquanto ele era derrubado pelo movimento, aquele mundo se abalou e o instante sofreu uma instabilidade, sucumbiu , o que fez com que aquele ser ficasse caindo, caindo, caindo... Sem instante, não havia espaço e uma desarmonia intensa afligiu aquele lugar: Choveu, e isso era a primeira coisa que mostrava a independência entre ele e o território. Caindo, sem espaço, um homem sequer pode pensar. Quando, pois, o primeiro pingo de chuva tocou o seu corpo, o instante refez-se e o espaço se perdeu, comprimindo-se e aglutinando tudo. Mais um-momento-e-meio e o Tudo se desfez, perecendo também um homem, que só teve o tempo de pensar, sem ainda sequer uma língua para se expressar: “Sou?”.
Nós desconhecemos, ainda, as últimas palavras de um homem
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Andrius, o romanceiro introspecto.
"A fantasia do café que havia esfriado"